“As
religiões são, ao mesmo tempo,
poder sobre as mulheres e poder das
mulheres” (Michelle Perrot)
Meu
interesse sociológico pelo papel do pertencimento religioso na
construção (e redefinição) das identidades femininas e masculinas
surgiu durante o período do mestrado e aprofundou-se no contexto do
Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Escola de Serviço
Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGSS/ESS/UFRJ),
instituição na qual tive a oportunidade de apresentar os resultados
de uma pesquisa envolvendo
as percepções de integrantes de dois grupos religiosos bastante significativos – Assembleia de Deus e Igreja Presbiteriana. Entre
janeiro de 2016 e dezembro de 2018, tive o privilégio de ampliar essas análises, comparando, durante o meu pós-doutoramento, grupos
evangélicos distintos e expressivos por meio de entrevistas
realizadas na cidade do Recife e nas Regiões Metropolitanas do Rio
de Janeiro e de Vitória, em especial nos municípios de Niterói, do
Rio de Janeiro, de Vitória e de Vila Velha. Ademais, os
resultados dessas pesquisas acabam de ser publicados pela editora Intermeios (São Paulo).
Como
a
discussão sobre a relação entre gênero e religião,
passando pela questão familiar, encontra hoje no
Brasil um terreno fértil? Aqui,
o conceito de gênero emergiu nas últimas décadas, numa esfera
discursiva marcada por ambiguidades e imprecisões, como uma questão
de disputa “aberta” no contexto da arena pública brasileira,
paralelamente ao reforço dos papéis “tradicionais” de gênero
entre os grupos que explicitamente rejeitam aquelas lógicas
igualitárias suscitadas pelas pesquisadoras envolvidas com os
“Estudos de Gênero”. Por
outro lado, os espaços religiosos brasileiros, marcados por muitas
tensões e contradições, não se deixam dominar facilmente por uma
forma de compreensão vinculada exclusivamente aos usos e sentidos
atribuídos pelo senso comum, no espaço político dos duelos
discursivos e simbólicos, à palavra “evangélico”...
Evidentemente, não se trata de um grupo coeso!
Embora os grupos religiosos compartilhem um
“ethos” semelhante, as percepções dos atores sociais variam
segundo variáveis bastante distintas, tais como: a
biografia dos indivíduos, engajamento político-partidário, grupo
religioso de origem, capacidade de mobilizar as bases, inclusive por
meio das diversas mídias etc. Como
os discursos religiosos são múltiplos em conteúdo,
significado e importância, a obra justamente procura “mapear”,
entre os segmentos evangélicos, uma diversidade de práticas e
representações sociais.
No
que diz respeito ao assunto, o conjunto da obra insiste no argumento de
que o discurso conservador extrapola os limites das igrejas
evangélicas brasileiras, constituindo-se não apenas um importante
componente das linhas de força da “cosmologia moderna”, como
também um dos traços mais marcantes de um ethos tipo familista
oriundo de nossa expressão religiosa majoritária, e da cultura que
o materializa. Nessa perspectiva, é possível que, em muitos
aspectos, o segmento religioso estudado acompanhe a “média
moral” da sociedade.
Entretanto, o livro, ao trazer análises interessantes sobre o modo profundamente ambíguo por meio do qual muitas fiéis lidam com as questões da ordem de gênero, procura relativizar essa forma de representação tomada muitas vezes como
exclusivamente “conservadora”, chegando a encontrar mulheres com significativos papéis de liderança
pautando o “debate de gênero” tanto nos espaços eclesiais, em
meio ao serviço pastoral e/ou episcopal, quanto nos círculos
acadêmicos, em eventos, artigos e livros associados muitas vezes ao
chamado “feminismo cristão”. Em termos sociológicos, Gênero e ideologia entre evangélicos brasileiros procura visualizar a “agência” (agency)
do fiel evangélico, que age fundamentalmente nas “brechas” do
discurso institucional, mesmo em temáticas sensíveis... Desejo a todas (e todos) uma excelente leitura!
Robson
da Costa de Souza é doutor em Serviço Social pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e licenciado em Ciências Sociais
pela UMESP - Universidade Metodista de São Paulo (São Bernardo do
Campo/ SP). Também tem graduação em Teologia e mestrado em
Ciências da Religião.
OBS: Disponível para aquisição no site da editora, na Amazon ou na livraria Martins Fontes Paulista.
OBS: Disponível para aquisição no site da editora, na Amazon ou na livraria Martins Fontes Paulista.
Robson, você teve acesso ao meu capítulo sobre feminismo protestante no livro da Heloísa Buarque de Hollanda, chamado explosão feminista? (2018) Talvez o conteúdo ali te interesse.
ResponderExcluirBoa noite, Lília! Gratidão pela indicação! Farei o possível para conhecer seu texto. Atenciosamente, Robson Souza
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